
Debaixo do sol escaldante, debaixo da lua brilhante
a névoa cobria o cercado, a dor segurava os punhados
a chuva custava a cair, custava nascer a flor dos namorados
a enxada até pesava, mas fome falava mais alto.
Levantávamos cedo, tempos de pura agonia
as pragas comiam alimento, que tamanha serventia
o chão rachava com a seca
nem tudo vingava, nem tudo rendia.
O gado morria aos poucos, por falta d'agua
a falta que o leite fazia
a doença chegava depressa, que tamanha hegemonia
a cura nem sempre vinha, e a lágrima sempre caia.
Um dia perguntei, "pronde" vai seu moço?
o moço malmente virou, sabia que a pena não valia
um matuto como eu, nem resposta merecia.
Falavam que na cidade, a comida era farta
outro dia comemos nosso cão
o decesso nos serviu de alimento, e ria
oh, coitado de totó, mas em mim não mais doía.
No outro dia foi a filó
nossa nobre "passarinha", a seca tirou-lhe a vida
e nós permanecemos com a nossa
matando nossa pobre galinha.
Vimos companheiros migrarem, atrás do fruto, da água, da vida
vida essa que parecia ter-nos roubado
vida essa que não lembrávamos que tinha.