um tocava flauta doce e o outro só aplaudia
então chegou com a asa branca falando da miséria do povo do sertão
mas quem disse que não era feliz?
Um nordestino que se honra não perde a alegria de raiz.
Parou com a flauta, começou com versos
ele e seu irmão, quase idênticos, encantaram os passageiros
daquele ônibus que amontoa gente como se fosse picadeiro
mas sem palhaços, sem alegria, sem cores.
Graças a Deus chegaram os irmãos, que animaram os cidadãos
tiraram lágrimas dos olhos, sorrisos dos rostos e palmas das mãos.
Tiraram até dinheiro dos bolsos, porque sem o "capitá", não dá pra seguir em outro vagão.
Ambos são de Irecê: o flautista e o seu irmão.
Terra de feijão, nos anos 80, porque agora nem capim a terra dá;
não dá mais batata doce, não dá mais macaxeira e nem dá mais pra ficar.
Sendo assim o flautista e o seu irmão, com a bilheteria móvel na mão vieram para "capitá"
"capitá" da Bahia e "capitá" recursos.
Declamaram mais poesias: floresta e conversa de passageiros.
A ultima falava da conversa do "dotó" e do sertanejo
um trabalha com a mente e o outro com os braços
um nem ganhava salário mínimo e o outro ganhava vinte salários e meio.
Os dois moços tiraram mais aplausos e receberam mais sorrisos, e desceram.
E eu tomei-me a escrever, quase perco o meu ponto
mas até já sinto falta das autarquias que chegaram e mudaram
e receberam e trouxeram sorrisos para duas dúzias de gente.