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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"... e por amor serei, serás, seremos."


Brigaram na noite passada, raiva, raiva e raiva. Resolveram se encontrar no dia seguinte, ele chegou primeiro e a esperou com uma rosa vermelha, ela já chegou aos prantos abraçando-lhe. Abraçaram-se por intermináveis minutos, ambos chorando muito, o rolar das lágrimas dela molhava a camisa dele na altura dos ombros; o rolar de lágrimas dele molhava o pescoço dela. Beijaram-se veemente, ele entregou-a rosa, ela derretida que era voltou a chorar em seus ombros. Desculparam-se muito e finalmente voltaram a trocar as fervorosas e verdadeiras juras de amor. Alí mesmo, no meio do shopping center, pessoas indo e vindo e certamente os enxergavam com facilidade. Momentos depois lhe aparecem em senhor que já aparentava uns sessenta e disse-lhes: tem algum casal apaixonado aí? A garota, boba que era riu e disse sim. O senhor perguntou: qual dos dois está apaixonado? O rapaz respondeu sem hesitar: os dois. O casal se entreolhou, ah, o rapaz era lindo, e estava mais lindo ainda com aquele nariz rubro por conta do choro. E então o senhor disse: vocês conhecem Pablo Neruda? Ah, ele era impressionante, amicíssimo de Vinícius de Moraes. Ambos consentiram. O senhor: eu sou professor de inglês e francês, tenho uma coisa aqui para vocês. A garota não parava de chorar - mesmo com o sorriso no rosto -, e nem lembrava mais porque chorava, acho que era de amor. O senhor revirou sua mochila, havia muitos papéis, depois de alguns enganos finalmente o encontrou, e deu-lhe ao casal, ofereceu boa tarde ao ilustre casal e foi-se. Ambos leram juntos os versos de Pablo Neruda. A garota pôs-se a chorar novamente, dessa vez sabia que era de felicidade, o destino parecia mesmo estar a favor daqueles dois jovens sonhadores. Ela maravilhada com os versos e a rosa, ah aqueles dois... Jamais me esquecerei do amor contido naqueles beijos, naquelas juras, naqueles afagos, carinhos e ternuras.


Página 82 do livro: "100 sonetos de amor" de Pablo Neruda.


"Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio dia como uma flor azul, 
sem que caminhes mais tarde pela névoa e os ladrilhos,
sem essa luz que levas na mão
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem da rubra rosa.
Sem que sejas, enfim, sem que viesses
brusca, incitante, conhecer minha vida,
aragem roseira, trigo ao vento
e desde então sou porque tu ès,
e desde então ès, sou e somos
e por amor serei, serás, seremos. "

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